quinta-feira, 26 de abril de 2012

Inocência



Vou aqui como um anjo, e carregado
De crimes!
Com assas de poeta voa-se no céu...
De tudo me redimes,
Penitência
De ser artista!
Nada sei, 
Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!


Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um solo fecundo
Que adoça e doira, tendo
Calor apenas.
Puro,
Divino
E humano como os outros meus irmãos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança
Que faz milagres a bater as mãos.


Miguel Torga