sexta-feira, 12 de junho de 2015

Um olhar sobre ti



Não há palavras suficientes para te descrever, há sempre alguma escapa, sempre alguma que não chega para completar o pensamento. Não é por seres meu pai, mas eras um dos homens da minha vida. Um daqueles que eu amo, que eu admiro, e que me sinto orgulhosa por ter traços da tua personalidade vincados em mim. Não eras uma pessoa de demonstrar sentimentos com facilidade, por vezes quase que tinham que ser arrancados à força, mas quando demonstravas eram dos mais genuínos. Bastava um olhar, um sorriso, uma cara mais séria para sabermos o que estavas a pensar ou a sentir. 
Gostavas de guardar tudo para dentro e não dar parte fraca, e sinceramente raras foram as vezes que te vi em baixo, arranjavas sempre uma forma de te camuflar. Eu sei que sofrias, muitas vezes em silêncio, mas também sei que a tua vontade de lutar e a esperança que ficasses bem eram ainda maiores. 
Sempre foste uma pessoa aventureira e que gostava de arriscar, por vezes tinhas aquela irresponsabilidade que nos fazia olhar para ti como uma criança rebelde, que desavia tudo e todos para mostrar do que é capaz. Sempre te considerei uma pessoa corajosa, que não tinha medo do que pudesse encontrar. Sempre viveste para o presente, sem fazer grandes planos para o futuro, talvez seja por isso que quando olhava para ti não via um pingo de dor nem de medo, tudo se iria consertar.
Foste um lutador, um guerreiro nesta tua batalha. No início sentiu-se a revolta, e por isso querias levar a tua avante, e não deste ouvidos a quem te aconselhou. Mas a idade e a experiência fizeram-te ver que estavas errado, e seguiste o teu rumo conforme o que te foi dito. Tentaste viver a vida, tentaste dar a volta por cima, adaptaste-te à tua nova condição, e não te ouvi queixar, por vezes partilhavas algumas palavras de arrependimento, mas o que passou faz parte do passado, o que importava era viver o dia a dia, como melhor pudesses.
É por isto tudo que eu acho que foi injusto a forma como partiste, a forma como a tua caminhada acabou. Tu querias dar mais, querias viver e fazer mais, mas algo te parou. Não acho que desististe, tu ainda querias lutar mais, caso contrário não te tinhas submetido a todos os tratamentos que te impuseram. Tu tinhas esperança de melhorar, que pudesse correr bem, e embora te visses com certas limitações não baixaste a cabeça. Perdeste parte da tua independência mas mesmo assim tentavas dar a volta por cima e contrariar o que te estava a acontecer. Continuavas com as tuas invenções,que te permitissem ter um melhor rendimento no trabalho e nos teus passatempos. Sempre foste habilidoso, eras um artista, e embora tivesses poucos estudos, eras muito mais inteligente que muitas pessoas que conheci que têm um canudo. A tua curiosidade sempre te fez querer mais, pesquisar para aprender coisas novas e fazê-las com as tuas próprias mãos, tinhas uma veia de inventor.
Agora que não estás presente, vai ficar a eterna saudade de querer falar contigo, querer abraçar-te e beijar-te e não o poder fazer. Vai ficar a lembrança do grande homem a quem tenho o orgulho de dizer que foi meu pai. Do homem que me fazia rir com as suas palhaçadas e boa disposição, do homem que me sabia pôr na linha apenas com um olhar, do homem que ajudou a criar a mulher que sou hoje em dia. Irás estar sempre comigo, irás acompanhar-me para sempre, onde estiveres, e sempre que estiver mais triste ou a sentir-me mais desamparada irei lembrar-me de ti como um exemplo de luta e de coragem. E tu agora finalmente poderás descansar, poderás ser livre, e não te preocupes que nós iremos fazer tudo para ficarmos bem, sempre contigo no pensamento.
Até breve papito...