quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Desejo


Desejo primeiro, que ames, e que amando, também sejas amado. E que se não fores, sejas breve em esquecer e esquecendo não guardes magoa. Desejo pois, que não sejas assim, mas se fores, saibas ser sem desesperar.
Desejo também que tenhas amigos, que mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis, e que em pelo menos num deles possas confiar sem duvidar, E porque a vida é assim, desejo ainda que tenhas inimigos; Nem muitos, nem poucos, mas na medida exacta para que, algumas vezes, te interpeles a respeito das tuas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que não te sintas demasiado seguro.
Desejo depois que sejas útil, mas não insubstituível. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para te manteres de pé.
Desejo ainda que sejas tolerante; não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, sirvas de exemplo aos outros.
Desejo que, sendo jovem não amadureças depressa demais, e que sendo maduro, não insistas em rejuvenescer e que sendo velho não te dediques ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que sejas triste; não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubras que o riso diário é bom; o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que descubras, com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustificados e infelizes, e que estão à tua volta.
Desejo ainda que afagues um gato, alimentes um cuco e ouças o João-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal; porque assim, te sentirás bem por nada.
Desejo também que plantes uma semente, por mais minúscula que seja, e acompanhes o seu crescimento, para que saibas de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo que tenhas dinheiro, porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano coloques um pouco dele na tua frente e digas "Isto é meu", só para que fiques bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos teus afectos morra, por ele e por ti, mas que se morrer, possas chorar sem te lamentares e sofreres sem te culpares.
Desejo por fim que tu, sendo um homem, tenhas uma boa mulher, e que sendo uma mulher, tenhas um bom homem e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte, e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho nada mais a te desejar.

Vitor Hugo

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